Foi durante a guerra mundial, em 1915. Eu estava deitado no meu alojamento numa farmácia da Polónia russa. Como estivesse atormentado por uma obstinada obstipação - por culpa das rações da frente - procurei meu hospedeiro (que falava bem o alemão mas era bastante taciturno) e lhe pedi para fazer-me uma preparação de óleo de rícino, pelo que eu lhe pagaria. O farmacêutico respondeu que ele não possuía nenhum grama deste remédio em seu estoque, porque as autoridades militares haviam requisitado seu inteiro estoque. Quando lhe perguntei se ele podia me dar algum outro tipo de laxante suave, inofensivo, ele primeiro fixou seu olhar nos meus olhos, e hesitando por um momento, me contou num cochicho furtivo que se eu pudesse lhe arranjar um pouco de chá, açúcar e conhaque ou rum, ele iria preparar-me uma "poção milagrosa". Cheio de expectativa, lhe apresentei os itens solicitados de minha mochila de campo.
O farmacêutico encheu um copo de licor de minha garrafa de conhaque, tomou uma colher de sopa de meu chá e açúcar e desapareceu numa sala escura; poucos instantes mais tarde retornou com um bule de chá de aparência pouco limpa, do qual então serviu um copo para mim. Quando notou quão desconfiadamente eu inspeccionava o turvo líquido semelhante a um chá, ele se serviu num copo de licor, e com evidente prazer, sorveu todo seu conteúdo marrom.
Quando perguntei de que era feito, ele meramente respondeu, "cogumelo milagroso!" Quando então perguntei que tipo de cogumelo extraordinário isto poderia ser, o farmacêutico replicou gracejando "É um segredo!" Ele me disse para tomar meia xícara desta poção cada manhã e noite.
De volta a meu quarto, sorvi cautelosamente esta "poção do cogumelo milagroso russo". Tinha um aroma um tanto alcoólico semelhante ao vinho e um sabor agridoce de nenhum modo desagradável. Eu o teria consumido com mais gosto não fosse pela sua aparência sombria e se não fossem, naquele tempo, os alertas diários nas ordens do dia em relação ao tifo e à cólera. No entanto, obedientemente devorei meia xícara dele.
Na manhã seguinte o tão esperado efeito - suave, emancipante, e sem o desconforto no estômago que acompanha o uso de outras preparações laxativas - fez seu aparecimento. Durante os poucos dias que se seguiram, eu estava em condições de dar alívio a dois de meus companheiros que estavam sofrendo como eu havia sofrido, com a ajuda da "mágica poção".